Onde o Futuro Não Chegou (Parte Três)

Em 1995 comprei meu primeiro automóvel nos EUA, à vista… Um Oldsmobile Cierra 87 aparentemente quase novo… Que maravilha!!! O galão (4.5 litros) custava 99 centavos de dólar. Entrar na agência, escolher o modelo, perguntar o preço e sair dirigindo a escolha para casa algumas horas depois… Pouca ou quase nenhuma burocracia se comparado na época com a mesma aquisição no Brasil, que era quase como comprar um filho. Para que lembrar que o ar-condicionado só funcionou 2 horas, sem direito a garantia… podia ser pior… Um ano depois comprei meu primeiro carro financiado nos EUA… Que maravilha!!! Confiaram em mim, não tive que provar praticamente nada para obter aquele empréstimo, claro… novamente tudo decidido ali na mesma hora… e por que não confiar em mim? Ligação direta com a financeira… Se eu não pagar me tomarão o carro… Não há tanto risco assim, afinal de contas, os seguros cobrem eventuais perdas e a coisa deslancha… O crédito fácil existia há muitos anos nos EUA, um dos segredos para a montagem dessa fornalha infernal de consumo, todos são lenha da mesma fogueira que consome o mundo… e gera empregos (gerava)… Comprar a vista um carro zero é o mesmo que torrar alguns milhares de dólares na hora, que é o quanto se desvaloriza o carro ao simplesmente sair da agência com um dono diferente que o próprio fabricante… A única dificuldade de financiamento era em relação aos imóveis em virtude de seu longo perfil de financiamento, um valor absoluto maior e uma saída mais lenta de vendas… foi aí que mexeram e tudo aconteceu em 2008.

Fácil também foi mandar instalar uma linha telefônica em casa… Havia vendido minha linha telefônica em Teresópolis por US$ 3000.00 cash… Aqui bastava pagar uma pequena taxa de instalação e usar a vontade… Já havia acabado aquela exploração de pulsos nas ligações locais, em ligações de larga distância haveríamos de optar entre operadoras específicas AT&T ou a finada MCI… Tudo em função do grande pacote anti-trust que esquartejou a ITT um monopólio que ser formara no passado e que dominava praticamente todas as comunicações do país. Mas, alguém me alertara que não encolhesse a AT&T por esta já ter sido acusada legalmente de inventar contas inexistentes aplicando o velho golpe dos poucos centavos que furtados de tantos valiam milhões.

Depois que comprei esse primeiro carro financiado com juros mais altos devido a meu crédito ainda não formado no país diversos colegas e amigos me disseram que tinha feito um péssimo negócio, que poderia ter negociado um melhor preço e coisa e tal… Como assim? Não comprei o carro em uma concessionária da fábrica? Que historia é essa de negociar preços melhores? Quanta ingenuidade, a minha… Descobri que a compra de carros nos EUA era uma espécie de mercado persa, cheio de pechincha onde se colocava em risco as suas despesas mensais. Não era uma simples concorrência entre fabricantes, cada qual com seu estilo e inovações… As concessionárias nada mais eram do que atravessadores que trabalhavam dentro de uma facha bastante elástica de lucro em conluio com bancos e financeiras atreladas a elas… Comprar um automóvel novo dando o anterior como parte do pagamento, era o mesmo que entrar em um cassino onde fatores aleatórios poderiam significar a perda de milhares de dólares. Em outras palavras era uma negociação de risco…

Uma das surpresas que tive com a sociedade americana foi verificar que neste país tão metido a ser fiel seguidor de suas leis, havia uma volumosa oferta de evidentes vigarices, que chegavam na caixa postal. Gastavam fortunas com propagandas impressas que no mínimo poderiam ser chamadas de enganosas. Ofertas de trabalho em casa (como promessas de ganhos inacreditáveis, talvez jovens ingênuos ou imigrantes iletrados caíssem naquilo… Bom, alguém caia, caso contrário não gastavam tanto com aquilo…) e sorteios  mirabolantes para a venda de assinaturas de revistas (tudo coisa de intermediários, não era uma compra direta com as editoras… isso me chamava a atenção… Eles, editoras sérias e renomadas, sabiam que tinha gente vendendo em seu nome usando artifícios desonestos… Ofertavam assinaturas grátis a título de experiência e não disponibilizavam meios de cancelamento ou desistência ao fim do período, forçando uma espécie de aceitação automática que resultava em uma dívida… que só trouxas pagariam… e eles deviam ser muitos… Enfim a sociedade americana era tão cheia de arapucas comerciais que até publicações de como se defender delas cheguei a ver oferecerem. Órgão de defesa ao consumidor existem, mas sem nenhuma publicidade, como o PROCOM brasileiro. Muito embora se pudesse devolver qualquer mercadoria comprada em loja sob qualquer pretexto… Os comerciantes daqui também são vítimas de comportamento desonesto dos consumidores… Será que é por isso que lhes dão o direito de tentar falsas ofertas? Continuo ingênuo.

Semanas passadas fui com minha mulher passar pelo martírio – já costumeiro depois desses anos todos – de ver se valia a pena trocar o carro dela… A coisa é asquerosa, tratam o cliente como alguém a enganar… Depois de horas perdidas tive 5 rebaixamentos de preços… Teriam finalmente chegado a última oferta? Não é o mesmo do que encontrarmos em super-mercados com preços melhores ou piores, basta não comprarmos, rapidamente decidimos… e uma eventual compra mal feita não irá alterar a sua vida devido ao baixo valor… Comprar um carro é uma conhecida experiência desagradável para milhões de americanos, tanto assim que muitos quando podem, optam por fazer um leasing, mesmo tendo que desembolsar mais no ato da troca de veículo. As fábricas, após a compra, mandam questionários para saber como foi o atendimento de suas concessionárias, como se de fato se importassem com a  jogatina de ofertas realizadas pelas mesmas e que poderiam – se quisessem – acabar de maneira simples, caso elas vendessem diretamente seus veículos não permitindo negociação no lucro dos seus diversos intermediários, que poderiam se contentar apenas com lucros fixos e o atendimento de serviços de manutenção do veículo… E a maioria das fábricas possuem sua própria financeira… Tudo poderia ser diferente, se houvessem leis que normalizassem o processo de comercialização dos veículos. Certamente venderiam muito mais. Encontramos no processo um erro engessado, uma incapacidade de evoluir pelo menos por parte de um fabricante, obrigando os concorrentes a copiá-lo…

Semanas passadas, ofuscada pela negociação do aumento do limite do cheque especial do governo americano, o congresso fazia uma espécie de CPI investigando mais denúncias envolvendo grandes operadoras de telefonia por inventarem contas inexistentes contra milhões de consumidores… Como sempre a mesma AT&T envolvida na má prática. Essa mesma companhia comprou a operadora local e ninguém se lembra das leis anti-trust, contudo, com o advento da telefonia celular existe um oligopólio que dá a impressão que não existe um monopólio.

Minha vinda para os EUA, em termos de datas, se correspondeu ao nascimento da Internet, ou sua real popularização. Meu primeiro email e que continua sendo o principal foi montado em maio de 1995. Foi com a então nascente American Online e era totalmente pago. A assinatura com a AOL me dava direito a somente 5 horas de uso mensa! Bom, hoje ele é absolutamente gratuito, eu só tenho que ser importunado pela publicidade que me aparece no topo da página… Pago a Internet a companhia de cabo, a mesma que dá o sinal da TV e do telefone fixo. Houve evolução, inclusive há provedores de email livres de anunciantes… Mas, reparando bem, os anúncios da AOL são praticamente da mesma turma que mandava vigarices pela caixa postal, até tônicos milagrosos para crescer cabelo continuam sendo ofertados, diplomas de “afamadas” universidades –  agora online – também…

A Internet mudou muita coisa na relação consumidor-comerciante. Podemos nos defender de vigarices com simples consultas… encontrando outras vítimas ou preços melhores sem gastar combustível… Mas, se as ofertas de vigarices continuam é porque ainda existem otários sendo enganados por safados que não são incomodados pelas autoridades, como deveriam. Será que o propalado ideal do mercado livre não é apenas uma cobertura para a venda de seguros ou proteção contra alguma coisa? O americano tem essa mania de vender proteção, suas tropas em torno do mundo protegem supostamente o mercado livre internacional… Livre de quem? A Internet tem sido fraca no sentido do que mais se esperava dela, a aproximação do fabricante com o consumidor final, com a eliminação do intermediário, que só está ali para fazer o preço do produto se tornar maior, se considerarmos que a Internet propicia que o fabricante não precise necessariamente de uma rede varejista de distribuição em muitos casos, pode enviar tudo por excelentes companhias de entrega de encomendas, algumas delas de alcance mundial. Há casos que compreendemos que o varejista seja o elemento do meio, em outros não. Entretanto, surge a opção errada que o americano fez de se tornar uma “sociedade de serviços”(como definiu Carter), ao invés de continuar sendo uma sociedade industrial… Quiseram se livrar dos sindicatos e foram fabricar no oriente! De quebra se livraram do pior da poluição ambiental (hoje ela foi globalizada com o aquecimento global, não adiantou muito…). Então se tornaram uma sociedade de intermediários, de atravessadores… Só se salvando ainda, porque são os que inventam, pesquisam e desenvolvem os produtos a serem consumidos, mas isso está acabando também… A questão é que os serviços empregam um número muito menor de gente, mesmo que contemos que a robotização ceife mais empregos nas indústrias, a tecnologia também afeta e muito os serviços… Uma loja online necessita de muito menos gente trabalhando do que uma loja de rua… Aliás, se observarmos a paisagem comercial norte-americana, notaremos uma grande padronização entregue a poucos grandes varejistas tão gigantes como repetitivos em esquemas comerciais…

Ontem Obama repetia a vontade de recuperar a economia fazendo com que as pessoas voltassem a consumir mais e com isso haver uma maior geração de empregos… Mas vejam… Isso é o mesmo que reconhecer que tudo está perdido, que o capitalismo morreu. Se as pessoas estão vivas com o que consomem, pretender que consumam mais para gerar mais empregos em um crescimento virtuoso é o mesmo que dizer que o desperdício é  a salvação. Na verdade é o que tem acontecido de forma irresponsável nesses anos todos. A tecnologia ceifa empregos de um lado mas ao aumentar o leque de consumo os repõe. E no caso americano, que optou por ser uma sociedade de serviços, significa importar mais… Okay, todos ganham, mas isso só daria certo se os insumos básicos de todo esse consumo fossem infinitos, se todas as tecnologias fossem apenas voltadas ao aumento de consumo, se houvesse uma estabilidade demográfica em todo o mundo e não só nos EUA. Vamos acabar chegando a conclusão que todas as vigarices que mencionei serem ofertadas a todo instante no mercado americano são toleradas porque empregam gente, movimentam a economia que precisa consumir mais, mesmo as custas das vigarices. Se juntarmos a essa problemática a questão previdenciária… Poderemos imaginar uma sociedade de velhinhos que dividem sua aposentadoria entre alimentos locais, produtos chineses, vigarices diversas e compra de seguros…

Para encerrar esse longo capítulo dessa série tenho a dizer que não houve evolução no plano de vôo, o avião modernizou-se mas o serviço de bordo continuou igual ou pior. Tentam revigorar fórmulas cansadas que não enganam a mais ninguém. O desconcertante óbvio está acontecendo o tempo todo, agravando-se em todos os sentidos. Se a aquisição de tecnologia e conhecimento científico é uma das poucas razões a justificar a vida da civilização industrial os pesos relativos deveriam estar apontando não mais para uma estabilização demográfica, mas para um vigoroso decrescimento populacional. Pílulas anticoncepcionais, abortos permitidos, altos custos na criação e educação de filhos, evolução social para o aceitamento de homossexuais, saúde absurdamente cara, maior restrição a imigrantes (o próprio declínio econômico é um grande desestimulante à imigração)  não estão sendo suficientes para baixar na velocidade adequada o tamanho populacional para que o uso de tecnologias se enquadre com o número de empregos gerados. Está havendo um nítido descompasso. Intuitivamente preferimos mais máquinas do que gente, principalmente se vivemos apinhados em grandes centros urbanos. Essas macabras contas estão sendo mantidas a distância do público indicando que o processo democrático também se deteriora cada vez mais.

No entanto, o que está faltando é a coragem (que sempre tem um pouco de irresponsabilidade ou aposta de risco) de Roosevelt (New Deal) e de Kennedy (Homem na Lua)… Pode ser que Obama esteja deixando os próprios americanos se darem conta que é preciso haver um movimento de força e assim lhe darem o apoio necessário para uma cruzada energética. Uma espera dessas é mais temerária ainda…

Só há uma maneira conhecida de resolver o problema energético e gerar uma grande quantidade de empregos no caminho… Partirem com tudo para a construção de usinas nucleares em regime de urgência… Sendo o objetivo substituir o petróleo e as usinas a carvão. Algo como o esforço que fizeram nos tempos em que riscaram o país com estradas de ferro e com estradas de rodagem. É o único que dá para fazer no momento, seja arriscado ou demorado (15 a 20 anos) como for… Uma solução tem que ser posta em andamento, um objetivo explicito, sólido e apresentável politicamente. Pode ser até que haja uma espera limitada para ver como se comporta as experiências com as usinas a fusão e os reatores de quarta geração que usam o tório e, em teoria, são absolutamente seguros quanto ao derretimento do núcleo e vazamentos, assim como resolvem a questão do lixo radioativo e da necessidade de grande volume de água para o resfriamento.

Contudo, seria necessário jogar essa determinação já nessa próxima eleição, já que é para haver democracia. Chega de viver de bluffs ou medidas moderadas é preciso demonstrar algo, um objetivo definido posto no papel com cronograma definido. Os americanos alcançaram o nível de desemprego dos europeus (sem possibilidade de melhoras) mas sem as proteções sociais daqueles, uma estrutura política, comercial e financeira decadente, desonesta e apodrecida, só lhe restando de convincente canhões e tubos de ensaio, que os últimos sejam usados então.

Sobre João Canali

Jornalista brasileiro e norte-americano residente em Miami, produtor e apresentador do Seriado Teorias (You Tube).
Esse post foi publicado em Comentários Políticos, Cultura Popular, Divulgação Científica e Tecnológica, Economia, Política Internacional. Bookmark o link permanente.

11 respostas para Onde o Futuro Não Chegou (Parte Três)

  1. fbarbuto disse:

    Canali,

    Para iniciar, eu gostaria que você esclarecesse se um galão nos EUA é realmente 4.5 litros como você escreveu, e não 3.8 (arredondando) como eu sempre pensei.

    Vou comentar direto alguns pontos do teu artigo.

    A internet é em grande parte como o Chacrinha: veio pra confundir, não para esclarecer. Não vejo a internet como um meio que permita somente combater picaretagens, mas também como um ambiente onde picaretagens novas podem surgir e florescer. Veja que não estou nem falando dos esquemas de fraude do tipo que recebo diariamente às dezenas — pedindo pra clicar no link (falso) do banco e reentrar com meus dados e senha caso contrário todos os meus fundos serão colocados indisponíveis numa conta bloqueda em Katmandu, alvíssaras pela loteria que ganhei sem nunca ter jogado e cujos fundos encontram-se a meu dispor desde que eu envie para o e-mail “x” os meus dados pessoais todinhos, etc. Falo de propagandas e subsequentes vendas enganosas cujo ressarcimento é complicado ou impossível. Alguém tem que se ferrar, afinal de contas… Diz o dito popular que todo dia saem de casa o Malandro e o Otário, e quando os dois se encontram é garantia de bons negócios na certa — mas só para o primeiro, é claro.

    A questão da energia é complicada. Os combustíveis fósseis estão se aproximando do seu fim, mas este fim não está próximo o bastante para encorajar um pânico benfazejo (isto é, água batendo na bunda da humanidade, fazendo-a pensar com pressa em soluções energéticas viáveis de longo prazo) nem lenta o suficiente para nos dar tranquilidade, o alívio para pensarmos com calma. E se nessa equação energética inserirmos o desprezado carvão mineral, temos aí pela frente mais uns 75 anos de sujeira garantida. Concordo com um uso mais intensivo da energia nuclear, pois apesar da pobreza dos seus resultados finais (só serve pra gerar energia elétrica limpa, o que por si só já parece já muita coisa, mas nossa sociedade cresceu mais complexa do que isso) ela está aí em quantidade tal que não usá-la seria um total contra-senso. É não renovável também, mas enfim… Aí aparece um desastre como o de Fukushima e lá vai a humanidade repensar se a energia nuclear é mesmo tão segura assim… e começa o frenesi de fechar usinas antigas e obsoletas que talvez já devessem ter sido fechadas há bastante tempo. Antigas, obsoletas, cheias de material radioativo num mundo cada vez mais inseguro e repleto de terroristas, já tem até terrorista loiro… Gente impressionável… Enfim, quem tem cu bom-senso tem medo, não custa previnir.

    Escrevo estas mal-traçadas linhas com este desconsolado teclado num momento em que o mundo precisa urgente de um Plano Marshall global. Mas quem vai pagar a conta? Aqueles que imprimem o US$ já não podem mais, eles mesmos já estão sem numerário e emitir dinheiro sem a contrapartida da produção e geração de riqueza não é somente temerário, é pura estupidez. Dizem que a França — a França! — é a bola européia da vez, periga ser rebaixada pela Standard’s & Poors (e há ainda quem ligue pra esses caras, pra piorar o que já é pra lá de ruim!) e seguir o turbulento rumo de Grécia e UK. O mundo parece tão sensível, um simples espirro pode desencadear reações inesperadas… Fico pensando no que os três gols (dois seriam golaços de pintura) perdidos pelo Pato hoje contribuiriam para baixar ainda mais a moral dos combalidos alemães, que como se sabe carregam aquela poioca da UE nas costas. Tumulto em Berlin? Saques a lojas em Frankfurt? Riots em Hamburgo? Ônibus incendiados em Münich? No mundo de hoje, tudo é possível.

    F.

    • João Canali disse:

      Fausto, pelo que andei pesquisando alertado por sua pergunta, o galão de 4.5 litros é adotado (ou foi…) pelos ingleses e pela Commonwealth mas, aqui nos EUA o galão se equivale a 3.78 litros. De repente aí no Canadá seguem essa medida, o que seria uma explicação para uma gasolina “mais cara” por aí, não sei… hoje estou pagando algo em torno de 3.77 no galão da gasolina comum com 10% de etanol. Como em algum tempo do passado aprendi o 4.5, isso ficou…

      A Internet é uma ferramenta de multiuso é preciso saber usá-la para se tirar o melhor proveito e não se machucar, não gosto de apelar para lugares comuns mas esse é inevitável.

      De fato você tem razão em relação a esse momento de hiato onde o complexo político, financeiro industrial ligado ao petróleo luta por extrair tudo que pode de um modelo condenado. Essas forças defendem seu zilhonário ganha-pão lembrando o quanto ele foi importante para o desenvolvimento mundial, principalmente para a supremacia tecno-militar (social é outra conversa) norte-americana, alertam desesperadamente quanto ao perigo de iniciarem um processo de desmanche sem ter nenhuma tecnologia mais segura e barata (e tudo que aparece eles sabotam quando podem, compram patentes e seguram, assim como políticos que estão tentando aos olhos estarrecidos do mundo inviabilizar a própria economia americana na tentativa de colocar novamente outro presidente subverniente como Bush… lembrar da fraude de 2000 é dar a exata dimensão ao ponto bandido a que chegam… lembrar que foi o derrotado Gore que lhes deu a pior facada com a questão do aquecimento é dar uma dimensão próxima do ficcional… mas os fatos permitem essa irônica leitura…) e lembrarão até o fim dos empregos diretamente relacionados e outras ladainhas… Contudo, o fato é que a cada dia toda a literatura científica e tecnológica que chega as minhas mãos só falam de soluções energéticas… As fuel cells não dependem mais de catalisadores de platina e estão extraindo hidrogênio até de álcool, metano e uma infinidade de outros compostos químicos (em certos arranjos, inclusive já em comercialização, com substâncias sólidas, lembrando o que seria uma bateria do futuro) e falta pouco para sabermos no que dará os experimentos com reatores nucleares a fusão (a quente… nada a ver com aquela a frio que ninguém conseguiu) que não geram praticamente nada de lixo atômico, não correm o risco de derretimento do núcleo e nada nela pode ser usada como material bélico (tem um experimento em andamento na Califórnia, com resultados previstos para breve). Tudo isso parece estar acontecendo na surdina… Não foi por outra razão que os alemães deram uma de ecológicos e prometeram fechar algumas de suas usinas nucleares mais antigas… estão a frente em diversas pesquisas e tentativas de nos livrarem do petróleo.

      Falar em plano Marshall é meio tenebroso, pois a guerra ainda não aconteceu… mais tenebroso ainda é imaginarmos que os alemães despontam como a grande potência do momento (ou a mais promissora) carregando nas costas o resto da Europa e os “judeus” da vez são os imigrantes muçulmanos presentes já em todo o continente e causando diversas reações que vão alem da proibição de panos na cabeça das mulheres… Como você bem diz Fausto, no mundo de hoje tudo é possível, pois todas as ideologias presentes são baseadas em falácias… Deuses não existem, não há desenvolvimento real às custas de dividas, não é possível um crescimento contínuo como quer ou necessita o capitalismo, a relação previdenciária foi para o saco ou irá em todos os países e Marx se esqueceu de um pequeno detalhe que retira toda a valia de seus prognósticos, gostar de trabalhar é um mito escravagista.

  2. fbarbuto disse:

    Canali,

    Fico meio sem graça por ter quebrado a tua ilusão que um galão tem 4.5 litros quando na verdade tem mais de 2/3 de litro a menos. Quer dizer que esses anos todos você pensou que estava comprando mais gasolina do que na verdade botava pra dentro do tanque? Espero que tenha sido bom enquanto durou… 😉

    O petróleo é sujo assim como toda a política geoeconômica que o envolve. Quando nada, nos obriga a aguentar as idiossincrasias dos árabes, povos cuja real importância hoje é nula e para cujas esquisitices bem poderíamos dar as costas e deixá-los a tagarelar sozinhos, se não fosse pelo ouro negro. Mas uma coisa temos que reconhecer: apesar dos seus defeitos, o petróleo é um bicho muito porreta. Carrega nele energia de forma altamente condensada. É fácil de ser estocado. Produz uma gama de combustíveis que podem ser usados em situações as mais diversas. Tornou realidade meios de transporte que sem ele parecem impossíveis de ser substituídos (Pense por exemplo num avião a jato. Será que teremos algum dia um avião a jato elétrico? Movido a hidrogênio? A urânio? Duvido muitíssimo). E como matéria-prima para plásticos, lubrificantes e outros produtos é insubstituível. O urânio e seus primos, tadinhos, só geram energia térmica (calor). E é isto. Claro que é melhor do que nada, mas com calor não se faz muita coisa além de eletricidade. Estamos ferrados com o petróleo, e mais ferrados ainda sem ele.

    As sacanagens e sujeiras associadas à indústria do petróleo têm 100% a ver com a ganância e a insensatez humanas. O petróleo é apenas uma fonte de energia, está acima do bem e do mal. Antes do petróleo entrar em cena, maldades eram feitas por outros motivos (ouro, prata, especiarias, etc). Quero ver (não, na verdade não quero) o dia em que os humanos começarem a brigar por uma coisinha bem mais simples chamada água.

    A propósito, todos os modelos energéticos disponíveis estão condenados, exceção à energia solar e das marés (a energia eólica e a hidroelétrica nada mais são do que subprodutos, ou manifestações secundárias, da energia solar).

    Desconfio que a tal fusão a quente sem lixo atômico é uma quimera, mas vou ficar quieto porque esse assunto não está dentro da minha “zona de conforto”.

    F.

    • João Canali disse:

      Não se preocupe, minha ilusão no máximo era de achar que a minha gasolina E10 (10% de Ethanol) era bem mais barata que a brasileira I60 (60% de imposto)… Calculando com 4.5 ficava mais barata, claro… De resto, mesmo no Brasil, nunca me fixei em quantidades de litros, mas, quanta grana em combustível aproximadamente dava para andar para lá ou para cá com o carro da vez, cada um com seus hábitos masoquistas. Mas, afinal… No Canadá o galão tem 3.78 ou 4.5 litros, acabei ficando curioso.

      O petróleo do Oriente Médio pode ser comparado a cocaína da Colômbia de muitas maneiras. Quem controla a produção, o plantio, são índios guerrilheiros das FARCs em simbiose com o cartel de barões da droga, quem tira da terra o petróleo são fanáticos religiosos, algumas vezes terroristas (Al Qaeda ou FARC dá na mesma) em simbiose com o cartel das oil sisters (Príncipes, ARAMCO, EXXON, BP, Shell e traficantes menos cotados…). O refino do petróleo assim como a produção da tal da pasta básica feita a partir das folhas de coca e derivados, pó, crack, óleo diesel, gasolinas, etc é muitas vezes terceirizado, mas sempre com a chancela e controle dos barões da droga que entregam o produto final a grandes financiadores que muitas vezes tiveram origem na exploração de jogos ilegais em cassinos especulativos ou bolsas de comodities, da na mesma… Se os federais estão apertando, se um carregamento tombou, se há uma tensão de guerra, se acontece um atentado, se as quadrilhas do cartel estão brigando, o preço sobe… se precisam impedir que outras drogas e seus respectivos cartéis obtenham mercado, se policiais ou políticos estão subornados dentro de um esquema qualquer, o preço cai. Quem entrega o produto ao consumidor final são donos de bocas ou postos de gasolina e seus asseclas, os frentistas malocados em morros ou ghetos e estes sempre batizam o produto para ganhar mais, seja misturando com pó de mármore ou solventes… Os consumidores são levados a crer que não podem viver sem aquilo, que não existem drogas melhores e mais baratas. Ambas as drogas escangalham com a saúde dos consumidores. A grande diferença é que o petróleo se esgotará e a cocaína não, mas é ele que, por enquanto, transporta a outra.

      Fausto, o petróleo como fonte de energia não é nada se compararmos com o inesgotável hidrogênio, que você tanto pode usar para produzir combustão ou eletricidade. Procure ampliar sua “zona de conforto” em direção a silenciosa revolução promovida pelas fuel cells que podem extrair hidrogênio até de bio-combustíveis líquidos ou compostos sólidos, acabando com o problema de armazenamento do gás… Ah sim, hoje em dia estão fazendo plásticos de diversos materiais, é só uma questão de mais ou menos gasto de energia… A era do hidrogênio só ainda não chegou com mais força em função dessa criminalidade desse combustível do passado, o qual não devemos ter, se você quer saber, nem metafórica gratidão… Se já tivesse acabado na década de 50 já teríamos coisa muito melhor em operação e um mundo muito mais limpo e seguro… Se não tivéssemos tido tanto desenvolvimento de forma tão rápida? Tanto melhor, teríamos menos gente, em uma relação de desenvolvimento muito mais sustentável para a aquisição de conhecimento, que é o que no fundo nos leva para frente.

  3. fbarbuto disse:

    Canali,

    No Canadá as pessoas ainda pensam misturado em relação aos sistemas de medidas. No passado usava-se as British Units (pés, libras, Fahrenheit, galões). Depois alguém mais lúcido introduziu o Sistema Métrico (kilograma, metro, Celsius). O galão tem 3.785 litros como nos EUA, mas na bomba de gasolina é litro mesmo. Não se abastece em galões. Mas ao comprar ou alugar um apartamento a “metragem” (coloco aspas porque “metragem” sugere metro quadrado, mas não é) é dada pelo corretor em pés quadrados. A velocidade nas estradas é regulada por km/h, mas nos supermercados os preços de alguns produtos são dados em relação à libra-peso — por exemplo, maçã por “x” dólares a libra. A temperatura é em Celsius, mas as pessoas mais velhas não raro dizem “Hoje vai fazer quase 80”. Fahrenheit, isto é. A proximidade dos EUA também encoraja esse uso misto de unidades. O governo é obrigado a usar e encorajar o sistema métrico, e mesmo as companhias de petróleo e empresas de engenharia procuram usar o SM em seus relatórios: m³ ao invés de pé³ para gás e barril para óleo, Pascal para pressão ao invés de libra-força por polegada quadrada (psi) e por aí vai. Um pouco de uma salada que vai ficando cada vez mais homogênea.

    Já disse e repito: o problema desse planeta é a nossa espécie e sua superabundância. Se fôssemos metade ou pouco menos do que somos e nossa vida seria muito melhor. Não é tanto o petróleo o problema, somos nós, nossa natureza ruim, nossos preconceitos e ganância. Estamos ficando como ratos de esgoto em superpopulação.

    Que plásticos são esses que estão sendo feitos de outras fontes? Fiquei curioso, pois me pareceu que eles não são derivados de petróleo e aí já fiquei fora da tal “zona de conforto”.

    Canali, hidrogênio é um combustível perigosíssimo, fácil de produzir mas complicadíssimo de estocar porque não se liquefaz facilmente nem é solúvel em outros meios. E também se atomiza, permeando e fragilizando a estrutura dos metais dos containers ou tanques onde é estocado. É uma tecnologia promissora para alguns, mas eu não vejo aviões a jato sendo propelidos a hidrogênio líquido, por exemplo. Queima gerando calor e temperaturas muito elevadas, o que vai gerar problemas de resfriamento de turbinas. Eu posso até visualizar aviões a jato propelidos a óleo vegetal reduzido (craqueado, isto é), mas aí escuto a barriga de algum africano, asiático ou brasileiro roncando e essa sensação não é muito confortável. Hoje em dia o hidrogênio é mais uma solução à procura de um problema do que o contrário. E uma solução que depende de outras que ainda estão para ser criadas ou aprimoradas.

    F.

    • João Canali disse:

      Fausto, os chamados plásticos biodegradáveis são todos feitos sem o uso do petróleo na composição dos tais polímeros. São feitos a partir de materiais orgânicos celuloses diversas e a nossa velha e conhecida borracha. Outros não biodegradáveis (que ainda são caros em comparação com os não degradáveis) são feitos também em refinárias a partir da cana-de-acucar, da mesma forma como fazem o etanol combustível podem também produzir plásticos… Enfim, algo que só teria um aprimoramento com o fim do petróleo… Sempre lembrando que o que dá para reciclar de plástico comum feito a partir do petróleo não é nada desprezível, tenho uma latão (de plástico) de lixo reciclavel cheio de garrafas pets do “cocólatra” que lhe escreve, que vai direto para a reciclagem (a cada 15 dias vem o caminhão dos recicláveis… não ganho nada diretamente, a não ser a satisfação de que contribuo para o não disperdício e colaboro para a prefeitura pagar uma conta menor pelo lixo que recolhe, me poupando de impostos maiores), muitas vezes na China o maior importador de lixo reciclável dos EUA.

      Mas sempre sobrará petróleo para os plásticos, se for o caso… A troca de matriz é na geração de energia. Creio que da produção de petróleo mundial de 60% vai tudo para transportes, o resto vai para geração de eletricidade e aplicações industriais diversas entre os quais os plásticos.

      O hidrogênio é perigoso quando usado em combustão ou armazenado na forma de gás (o hidrogênio liquido), mas as fuel cells modernas estão extraindo o hidrogênio on demand de diversas fontes e misturando com o oxigênio do ar para gerar eletricidade… a hidrólise inversa, o subproduto da coisa é água. Até gadgets com diversas fontes de hidrogênio já estão no mercado… Olha só os exemplos e entenda porque estou falando de algo que apesar de estar sendo propalado a anos só agora começa a aparecer…

      Com metanol (deve ser um gel…) em http://www.mtimicrofuelcells.com
      Com água e um pó de silício de sodio em http://www.powertrekk.com
      Com hidrito metálico (esse é solido e vem em cartuchos) http://www.horizonfuelcell.com

      • fbarbuto disse:

        Canali,

        Não capturei a essência dos gadgets que você gentilmente listou, mas me parece que eles ainda não servem para mover um avião a jato nem um transatlântico, se bem que no futuro esses últimos vão acabar empregando energia nuclear tal como os navios e submarinos nucleares que já existem (ou não, a depender de quanto ouriçado e atuante estiver o terrorismo fundamentalista… imagine um atentado num transatlântico visando somente a liberação de materiais radioativos em algum grande porto como New York… tipo uma bomba suja flutuante). Enfim, é uma tecnologia que está despontando por aí, ainda um pouco cara, o que é normal (fator escala).

        O grande problema do hidrogênio é sua grande explosividade. De todos os gases inflamáveis conhecidos, é o mais explosivo. Hidrogênio líquido é uma quimera, e não tenho notícias de nenhuma aplicação dele em escala que não tenha sido nos foguetes Saturno do projeto Apollo. Mas pode ser…

        Plásticos a partir de álcool não é coisa nova. Em Alagoas, no início dos anos 80, estava em andamento a implementação do polo alcoolquímico daquele estado, e uma das unidades industriais a serem construídas era uma planta de fabricação de eteno a partir de etanol. Processo simples, mera desidratação molecular de etanol
        H3C-CH2-OH em eteno, CH2=CH2. Desconheço se essa unidade ainda funciona. Possivelmente não. O eteno petroquímico, mais barato, e a canalização da produção de álcool para fins automotivos devem ter tornado essa fábrica inviável.

        Sou a favor de tudo que é biodegradável. Me assusta a quantidade de plástico nesse mundo nosso. Não o plástico de uso mais duradouro, aquele que compõe acessórios que usamos por longo tempo, mas o plástico que é feito para ser usado uma vez somente (copinhos de água e café, garrafas PET, etc). É um desperdício e uma agressão com a natureza, se bem que copinhos de café feitos de papel demandam o abate de árvores, que coisa boa não é. Cada vez mais creio que o problema do nosso planeta é superpopulação, o resto é consequência.

        F.

      • João Canali disse:

        Tenho lido muitos artigos sobre as Fuel Cells e a coisa tem toda a pinta que será aquela solução que cada vez mais se aprimorará e substituirá mesmo as baterias, mesmo considerando que o lítio, depois que reavaliaram suas reservas mundiais (havia receio que não fosse suficiente para sustentar uma troca total da frota de veículos com o advento dos híbridos e os novos modelos totalmente elétricos) verificaram que elas são confortáveis. Principalmente, depois que conseguiram fazer a membrana catalisadora sem utilizar platina, que é rara e obviamente cara. As fuel cells, para produzir eletricidade podem ser abastecidas ou alimentadas (uma tecnologia nova demanda cuidado com os termos de uso) com o hidrogênio já em forma de gás (na Alemanha já há uma frota de ônibus públicos assim funcionando) que, concordo, apresenta perigo ou embebido em outras substâncias com que o gás se mistura molecularmente, apresentando assim muito mais segurança no manuseio e transporte… inclusive bio-combustíveis líquidos… Não há combustão nem uso de energia (é basicamente inercial, na base de contato) para provocar a reação do combustível com a membrana catalisadora que mistura o hidrogênio com o ar (oxigênio) liberando eletricidade e água. A relação de uso do combustível é muito superior a fraca relação de uso útil da gasolina (que é em torno de apenas 12%) na transformação em energia. Tem outra coisa a favor das fuel cells… Tanto a energia aeólica, quanto a solar, em suas formas mais eficientes utilizam diversos metais raros, seja nos magnetos supereficientes dos dínamos (caramba outro dia brincava com dois minúsculos supermagnetos e a coisa me beliscou… brinquei com meu neto de fazer um piercing no nariz com um magneto de cada lado do costado do nariz… e na hora que puxei os dois juntos… “pic”… doeu…) dos wind mill quanto na composição das células foto-voltaicas modernas. Esse metais não aguentam o tranco de uma super demanda e pior… 90% desses metais raros estão… onde… onde… na China… que até já castigou os japoneses encurtando a oferta quando esses apreenderam um pesqueiro espião deles. Tudo aponta para as fuel cells.

        Quanto a superpopulação temos concordado desde sempre… Em relação a isso tenho buscado entender se não existe uma terrível relação entre capitalismo e superpopulação… Curiosamente, de uns anos para cá os líderes ocidentais não se cansam de repetir que querem que as pessoas consumam mais para que a economia tenha salvação. Não se trata de um indicativo de boa economia, a coisa é dita de tal forma que compreendemos que a economia moderna é uma espécie de pirâmide de vigarice financeira, nesse quadro, o excesso de consumo substitui os novos investidores de onde se retira o dinheiro para pagar os juros dos que investiram a mais tempo… se houver uma corrida de saques e uma subsequente parada de ingresso de novos investimentos, a bicicleta cai… ou se as pessoas deixam de consumir mais e/ou estabilizam seu ritmo de consumo (o que seria o mais racional por diversas razões, inclusive a sustentabilidade planetária) a economia entra em crise. Se considerarmos que o maior incremento de aumento de consumo nada mais do que o óbvio crescimento populacional, temos uma fórmula explosiva nas mãos… Algo como o que se o sistema econômico (queiram chamar isso de capitalismo ou “suicidalismo”) fosse montado dentro da hipótese (que foi verdadeira desde o surgimento da revolução industrial em períodos de não guerra, quando tivemos um “refresco” no crescimento populacional) que a população crescerá sempre… Quando ela se estabiliza (e de certa forma sintomaticamente isso ocorreu tanto nos EUA quanto na Europa, se desconsiderarmos o fenômeno da imigração) encontramos a crise (muito embora saibamos que o aumento do petróleo nos 8 anos de Bush criou a enxurrada de petro-dólares que causaria uma inflação colossal ou a formação de uma colossal bolha setorial, o que acabou ocorrendo). Dentro dessa visão de sistema econômico que só funciona com aumento de consumo ou população ainda temos a adoção desse sistema pela China, onde o aumento da população é controlado a ferro e fogo, mas onde o consumo crescente acontece no simples resgate ou inclusão de centenas de milhões de emergentes sociais de sua própria população.

  4. fbarbuto disse:

    Hoje mesmo estava falando a respeito disso, do indesejáveis efeitos colaterais do tipo se-correr-o-bicho-pega-se-ficar-o-bicho-come que uma desejável e talvez inevitável redução da população mundial pode causar. Um deles é o problema da previdência social. Adiar a aposentadoria seria uma solução até a população se estabilizar, mas há limites para isso já que a queda das forças físicas e mentais das pessoas não vai colaborar nesse “plano”… Vamos todos continuar envelhecendo e ficando cada vez menos produtivos. Fazer as pessoas começarem a trabalhar mais cedo é inviável pois vamos precisar dos mesmos 20 e tantos anos para formar um médico ou engenheiro, um pouco menos para formar um profissional de nível médio, etc. Sei que você vai dizer que máquinas incríveis nos ajudarão, mas isto além de não passar, hoje, de uma simples quimera, não vai nos ajudar em nada nesse ponto específico. Máquinas não contribuem para o INSS.

    Haverá também a queda na arrecadação de impostos devido à diminuição no consumo e também na massa salarial (menos gente, menos salários). Ou se colocam os impostos nas alturas (piorando ainda mais a situação do consumo) ou não vai haver dinheiro para investir em educação e saúde. A mão-de-obra será caríssima e cada vez mais exigente. Os juros serão baixíssimos e poderá haver deflação. A “sintonia fina” da economia será complicadíssima. Enfim, pensar um mundo de amanhã nos moldes do que temos hoje dá até arrepios.

    De resto será um mundo menos poluído e menos belicoso. O que já é alguma coisa.

    F.

    • João Canali disse:

      A questão da previdência é insolúvel sem ou com estabilização porque a mecânica de sustento dela é matematicamente falha a partir do momento que variáveis imprevisíveis como expectativa de vida , descobertas tecnológicas (que não só alongam expectativas de vida mas que também mexem com a capacidade anticoncepcional e ceifa empregos tradicionais), modificações culturais (quando as pessoas deixam de se comportar como carneiros ou servos modernos), relações socioeconômicas (paises que ora estão bem, ora estão mal devido a diversos fatores) são conjugadas. Prova está que a relação de pessoas trabalhando que devem pagar pelos que estão aposentados está “detonada” na maioria dos países. O primeiro ponto a ser visto é que a aposentadoria não é só encostar quem não mais produz com a mesma eficiência, é falar a verdade e reconhecer que é uma aspiração legitima de todos nós… É reconhecer que tem que haver uma recompensa por uma vida de trabalho… Que essa “nobreza” que envolve o trabalho é papo escravagista para boi dormir. Trabalhar (ter uma atividade obrigatória para obter o sustento) é uma merda para a esmagadora maioria das pessoas que não tiveram a chance de ter atividades ligadas a áreas de seu interesse pessoal, uma minoria. Essa coisa de mostrar velhos que ainda querem se “sentir úteis a sociedade”, que se sentem entediados sem a atividade diária que mantiveram durante anos, é o mesmo bla-bla-blá conformista de fundo religioso, militarista ou escoteiro. As questões trabalhistas guardam tantos mitos de auto-engano – que trabalham diretamente nos processos de socialização do indivíduo – e anulação da vontade individual das massas que talvez até superem aqueles vindos das religiões, com as quais, óbviamente, se misturam. A coisa é muito forte nesse ponto porque envolve verdades intrínsecas, tais como a necessidade do ser vivo fazer alguma coisa para sobreviver, seja caçar ou estender o braço e puxar um fruto para se alimentar e se manter vivo. O fato é que nossa capacidade cognitiva combinaria mais com o paraíso onde só a maçã era proibida ou venenosa, não é a toa que essa imagem foi imaginada. E por ser assim nossa parte cognitiva fará de tudo (tecnologia) para não ter obrigatoriedades (ou muito poucas) e enquanto não consegue se satisfaz com o dia da aposentadoria e todas as outras ilusões a cerca do porvir, o que imperava antes do advento das previdências, uma invenção recente, em termos históricos, segunda metade do século XIX… Se alguém estranhar como se conseguia viver em um mundo sem aposentadoria, imaginando idosos tendo que encarar as tantas atividades físicas de um mundo com pouca tecnologia… Basta lembrar que o senado romano não era eleito, era direito automático para o patrício que atingisse os sessenta anos de idade… Vivia-se muito menos do que hoje em dia e velhinhos eram velhinhos porque, antes de mais nada, seu corpo era, particularmente, muito forte.

      Mas a sociedade vive arraigada a seus mitos e a ganância de poucos que manobram a coisa de modo a que eles tenham muito mais do que outros… Caso contrário o sustento da previdência seria uma despesa do estado como outra qualquer, não fariam um instituto a parte na esperança da coisa se financiar sozinha com uma matemática que sempre dará errado se não houver não só um controle demográfico – aí é que está – mas também um inviável controle de aptidões para os mais diversos tipos de trabalhos (aí sim teríamos que partir para a ficção científica. E é o que acaba ou acabará acontecendo, região rica paga melhor aposentadoria e ponto.

      Mas o tema superpopulação tem uma faceta trágica e politicamente inviável, se ainda pensarmos em democracias e direitos humanos. Ou se aplaina a população de forma indireta ou acidental, com guerras e epidemias ou as regiões onde a população não está equilibrada de forma espontânea (como já aconteceu em diversos países) é que entrarão em congestão que com sorte seria estanque… Uma Índia que se pegaria nuclearmente com um Paquistão, por exemplo… Ou uma praga qualquer que se abateria em outras regiões mais populosas… Agora, é difícil imaginar hoje uma regionalização de conflito que não se espalhe para todo o mundo, principalmente, se tiver o efeito de diminuir a população mundial para níveis sustentáveis. Outra possibilidade é mundo todo adotar o autoritarismo do estilo chinês (que nada mais é do que o velho nacional-socialismo posto em prática) e controlar os nascimentos… com direito a testes de DNA (hoje possíveis) no feto, para verificação de legitimidade, se não está faltando nada a aquele gameto que tanto nadou pode seguir em frente ou não… (aos politicamente corretos que por acaso leiam isso… gente que acha que se você menciona é porque você é a favor… aviso que é só uma especulação de possibilidades… mas que não é uma má idéia não é… ;-))

      • fbarbuto disse:

        Canali,

        A aposentadoria funciona da mesma forma que o seguro do seu carro ou casa, embora estes últimos funcionem melhor devido às “condições de contorno” deste business. Tudo é baseado em médias e probabilidades. As pessoas vivem em média “x” anos e se aposentam com “y”. Uns vivem mais, outros menos, uns se aposentam antes, outros depois, mas na média as coisas se aplainam. O problema é que as pessoas estão vivendo mais mas não estão vivendo necessariamente melhor. Sim, neste caso também há variações; há os mais saudáveis fisica e mentalmente, mas mesmo aí não houve uma melhora tão significativa em relação aos anos de vida que foram ganhos com os avanços da tecnologia médica e farmacêutica. E em condições normais de temperatura e pressão um homem de 30 e poucos sempre vai estar na frente, em termos de vigor físico e mental, de um outro com 50, 60 ou mais. E o mercado de trabalho sempre vai querer o primeiro em detrimento dos segundos, o que é lógico em todos os fronts da razão. A equação da previdência se transforma numa inequação quando esse homem de 60 que já não pode competir com o de 30 vive até os 80 ou 90 pendurado nos INSSs da vida. Não faz tantas décadas assim, o brasileiro se aposentava para morrer (caso do meu pai, inclusive) pois o tempo de trabalho para se aposentar superava a expectativa média de vida do pindoramense médio. Era um sistema baseado numa lógica cruel que partia do princípio que o trabalhador NÃO iria viver para desfrutar do ócio remunerado e merecido; no máximo deixaria a pensão para uma viúva que também não iria muito longe. Hoje em dia as coisas mudaram e tudo seria muito lindo se a automação e o aprimoramento dos métodos não tivessem cortado tantos empregos. Temos jovens à beça que não conseguem trabalho (mesmo quando a economia anda sazonalmente numa boa maré) e velhos vivendo longamente como nunca. É o pior dos mundos.

        Há países que não têm aposentadoria. A Malásia é um exemplo. Ou o sujeito poupa para os dias de inverno, ou vai morar com os filhos e netos — se os tiver. Ou, em último caso, vai “dar o cu e vender rosa”, que é uma expressão gauchesca muito pouco delicada e sutil para “se virar”. Não acho que seja um sistema dos melhores, até porque encoraja a superpopulação com base no pensamento lógico: “quanto mais filhos eu tiver, maiores as chances de algum deles poder me acolher na velhice”. Que por sinal é um pensamento predominante em países com superpopulação. Curiosamente, a origem de certas palavras insuspeitas como “testemunho” vem desse anseio por segurança familiar/filial oferecida por uma prole avantajada.

        Superpopulação se “cura” com educação e um tecido social atuante e eficiente. O problema é o sofrimento e as contradições a se enfrentar até se chegar lá. Nenhum país nasce Finlândia.

        F.

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