Atualização

Antes de dar seqüência a série “Onde o Futuro Não Chegou“ me sinto na obrigação de atualizar alguns fatos marcantes que se passaram nessa  semana onde fui a Nova York e ter aquela sensação de Blade Runner novamente, estragada pela quantidade enorme de turistas… Ir a Nova York é como que valorizar a minha Miami, definitivamente prefiro não ter a mesma oferta alimentar se o preço for aquela muvuca.

Deixei de comentar, mas, as trauletadas que o velho vilão Rupert Murdoch (o magnata da imprensa marrom… não sei como não ressuscitaram esse termo…) andou levando e ainda levará estão diretamente relacionadas com a campanha presidencial americana. Como todos sabem, ele é dono da famigerada Fox News que se vendeu totalmente a essa coisa absolutamente facistoide que se transformou a extrema-direita americana incrustada no partido republicano, por sua vez manipulada por grandes corporações (onde se destacam em malignitude as grandes companhias de petróleo) que assistem seu mundo ruir… ruidosamente.. A ordem de agir contra Murdoch  foi evidentemente política, mas não deve ter sido difícil encontrar evidências criminais que servirão para intimidá-lo e fazê-lo pensar duas vezes antes de deixar seus asseclas exagerarem.

A luta política pela elevação da dívida pública americana não tem servido para nenhum dos lados da contenda… Republicanos passam pelos canalhas irresponsáveis de sempre e democratas por ilusionistas canastrões demagogos que não fazem milagre algum. No entanto, se quisermos ver a estrela do nosso Prêmio Nobel da Paz brilhar sorrateiramente, basta entendermos como é fácil hoje, depois de toda essa discussão, mandar vir as tropas para casa… Quem é que, nessa altura do campeonato se poria contra ao fim das atuais despesas com a ocupação militar no Iraque e no Afeganistão?  Obama pode até abreviar os prazos dados para a retirada das tropas, que não encontraria oposição na opinião pública nem política.

Finalmente, conhecemos o rosto da camareira da Guiné que enganou DSK (conclusão da própria promotoria de Nova York, não me acusem de inventar fatos conspiratórios). Terça passada ela dava entrevista exclusiva para o programa Good Morning América… (claro que todos aqui sabem que essa exclusividade tem um preço em termos financeiros e a maioria acabará ficando com a impressão que tudo foi só pelo dinheiro…)  Como representa mal… pior que o casal Nardoni! Mas, a coisa foi muito bem arranjada, pelo ponto de vista legal, nesta nítida cover-up operation… Ao desmancharem o caso a promotoria nova-iorquina teria que contra-acusar a camareira por tentativa de extorsão e/ou por prostituição seguida desta tentativa, o que implicaria também uma acusação de cumplicidade para DSK, no tópico da prostituição (o tal do falso moralismo metido a puritano que proíbem a prostituição em um estado como Nova York, uma verdadeira Sodoma e Gomorra comportamental, digamos assim… a proibição só serve para gerar um dinheirinho marginal para as cortes, quando estão apertados…). Como a promotoria “deixou” vazar informações sobre o caso de forma indevida e antes do prazo legal, a coisa pôde ser negociada entre todas as partes. Com a defesa de DSK concordando com tudo por conta da possibilidade de acusação de participar de ato de prostituição (a única maneira de explicar convincentemente a consensualidade da bizarra relação sexual ocorrida). Assim, DSK ficou de fora do páreo da presidência francesa (e ainda terá que lidar com outra acusação na França) e qualquer outra versão dos fatos que venha a apresentar na segurança do solo francês, não terá muita validade junto a opinião pública…

A última vez que alguém teve suas idéias radicais divulgadas de forma tão veemente foi com o Unabomber. Quem tiver curiosidade basta recapitular o fato no Google. Eu acredito até que tenham cedido a sua exigência ou chantagem de divulgar seu famoso manifesto em função de terem verificado que o mesmo seria absolutamente inócuo no sentido de inspirar outros malucos radicais a seguir suas idéias contra-culturais. Não havia uma sugestão forte do que fazer diante as suas contestações esquisofrênicas do sistema. O manifesto de Ted Kaczynski não era de direita, centro ou de esquerda, nem teísta nem ateísta, nem tão pouco de alguém com o QI tão elevado… Óbvio que o que temos nas mãos é um sistema condenado a ser mudado, mas usava valores mundanos em suas acusações… Não se contesta uma civilização de forma eficiente utilizando seus próprios valores ou sem criar novos objetivos lógicos a serem alcançados. O fato é que nunca obteve seguidores, como, talvez, fora inteligentemente previsto.

Agora temos esse psicopata norueguês, muitas vezes mais letal e doente do que o Unabomber,  tendo seu manifesto – que nada mais é do que uma repetição radical do que toda a direita européia está afirmando de diversas maneiras – sendo divulgado de forma espontânea por todo o mundo… e… pasmem obtendo até adesões ideológicas… Aqui vale a pena lembrar fatos históricos que têm sido esquecidos ou deveriam ser resgatados nesse momento… Hitler ao postar-se contra os judeus em seu livro Minha Luta  escrito na prisão, nada mais fazia do que repetir o que diversos partidos em toda a Europa pregavam… Não foi ele que inventou o anti-semitismo como plataforma política. Durante a WWII, essa mesma Noruega, onde se criou esse radical genocida, foi uma espécie de aliada esquecida dos nazistas… Foi em um fiord norueguês que o irmão gêmeo do Bismarck, o Tirpitz  se escondeu durante praticamente toda a guerra, mantendo boa parte da esquadra inglesa deslocada para vigia-lo. Foi na Noruega que os aliados destruíram a fábrica de água pesada que os alemães construíram para fabricar a sua Bomba Atômica, fato isolado que, talvez, tenha determinado o nosso presente… O que alivia-nos de todo esse Deja vú é que todo radical que chega ao assassinato só está usando – como um disfarce ou máscara – uma ideologia política ou crença mística qualquer para dar vazão a sua patologia, a sua imensa fraqueza psicológica que o faz sofrer e não se adequar ao meio em que vive… Se fossem as idéias que tivessem capacidade de formar assassinos, já teríamos sucumbido enquanto civilização.

Junta-se a Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Michael Jackson e alguns outros essa menina, a Amy  Winehouse. Como eu sei que muitos desses astros da música se promovem através da extravagância comportamental buscando o mercado da rebeldia dos jovens que acabaram de descobrir que Papai Noel não existe e que Papai do Céu está na mesma fita… eu nunca prestei muito atenção a moça, assim como não presto à atenção a tal de Britney Speer, por exemplo… Na verdade, eu sou conservador em termos de música popular, há uns 20 anos quase nada de novo me agrada e nunca ouvi uma música inteira dessa moça, embora tenha notado que tinha talento por intermédio de pequenos exemplos, um talento que dispensaria aqueles cabelos ridículos e feios. Com a notícia de sua morte me veio então uma estranha sensação de perda… de desperdício, de pena… Me senti enganado e sendo obrigado a reconhecer que existem exceções para confirmar a mentira… Que a leitura de face era verdadeira, que Amy se enquadrava na instabilidade emocional (drogas muitas vezes é pura decorrência…) que muitos grandes artistas carregam, talvez como uma espécie de seqüela do próprio talento e/ou de toda a pressão que a fama acarreta, um conhecido e batido bla-bla-blá.

Sobre João Canali

Jornalista brasileiro e norte-americano residente em Miami, produtor e apresentador do Seriado Teorias (You Tube).
Esse post foi publicado em Política Internacional. Bookmark o link permanente.

6 respostas para Atualização

  1. Fausto disse:

    Canali,

    Bem-vindo de volta. New York, eh? É bom mudar de ares de vez em quando, e NYC tem muita coisa boa. Livrarias… Museus… Talvez não seja bom para morar, embora certamente existam controvérsias.

    E a Nafissatou Diallo, hein? Não era nenhuma daquelas cujas fotos vimos por aqui durante os tempos de indagação sobre sua real aparência. Erramos todos.

    A morte da Amy foi um choque, mas a carreira dela já tinha morrido há muito tempo. Impossível uma pessoa fazer aquilo que se dizia que ela fazia e ainda continuar em pé, o que dirá cantar.
    Ela se descartou antes de tornar-se descartável.

    O noruegês maluco acabou encapsulando o sentimento anti-imigrante que não é nada novo na Europa. Concordo com você, não havia ideologia atrás do que ele fez, apenas desequilíbrio mental com um aparente suporte filosófico (como o doidão que matou mais de uma dezena de crianças num colégio no nosso Rio de Janeiro) que se desfaz como fumaça quando se analisa o que ele fez. Curioso ele não ter se suicidado ao fim do seu trágico ato. Por que terá sido? Covardia? Vontade de continuar em sua “luta”, desta vez no campo das palavras, atrás das grades? Ou um grau de loucura tão acentuado que faz com que ele se veja a si próprio como um messias indestrutível? Duvido que se consiga extrair algo mais dele. Vai ficar preso como um ícone dos ideais de “pureza étnica” da Europa, um supremacista do Velho Mundo.

    F.

    • João Canali disse:

      Obrigado Fausto. Concordo com sua defesa de New York sob o aspecto cultural. Acrescento até que me senti fora do esquemão visual de outras cidades americanas que conheço, cidades que parecem nascidas de um casamento do Wall Mart com o McDonalds, muita padronização visual. No entanto, acho que a questão sobre viver na cidade ou não tem mais a ver com aspectos pessoais (idade principalmente, casado, solteiro, com ou sem filhos, etc…) e mesmo profissionais. Crescer filhos ali não me parece uma boa idéia, sair de Manhattan para aqueles bairros em volta é ficar no pior dos mundos, aquilo é feio, prédios decadentes, outros depressivos, quente no verão e insuportavelmente frio no inverno… Ah Ok… tem o Central Park… e daí? Eu diria até que se eu fosse solteiro sem filhos eu curtiria viver lá, ninguém se sente sozinho com aquela multidão de turistas… Claro que deve haver bairros (cidades) periféricos com casas em bom estilo, mas o clima vai ser o mesmo. Tô fora.

      O principal não comentamos… Afinal o que achas? A Nafissatou é feia prá Diallo ou encaravas em um sufoco novayorquino? Bicho, eu vi tanta chinezinha bonitinha na cidade… Já que é para fazermos uma extravagânciazinha étnica… Agora, uma coisa é verdade, temos que admitir que temos dois envelhecimentos opostos em nossas vidas masculinas… O envelhecimento que vai dos aproximadamente 13 anos até os 40 é virtuoso, começamos encarando o que aparecer pela frente (e quantas Nafissatou da Bahia eu não fiz feliz, assim espero…) e vamos ficando cada vez mais exigentes… A partir dos 40 temos um envelhecimento decadente, começamos exigentes e vamos indo até o que cair na rede é peixe… O DSK, obviamente está no segundo caso… Se colocassem uma muito bonita para oferecer o blow job em francês, ele era capaz de desconfiar, acho que é por aí… Ela estava no ponto certo, convenhamos.

      • fbarbuto disse:

        Canali,

        A teoria do envelhecimento vs. enfraquecimento das nossas exigências mulherísticas só faz sentido pra homens pobres, ou não-ricos, como este que vos escreve. Ricaços, não importa o quanto caídos, sempre almejam e pegam coisa muy buena, vide o Hugh Hefner (nem sempre funciona, tendo em vista os últimos acontecimentos com o velho playboy…). DSK tinha condição de pegar coisa melhor, então acho que foi um misto de oportunidade com o velho espírito de colonizador, de senhor de engenho que pega a mucama apenas para exercer o seu poder terreno transmutado em poder fálico. Não que as mucamas não sejam às vezes bem apetecíveis, com derrières que (n)os remetem a delícias indescritíveis, um universo de sensações tácteis intensas e paradisíacas… Deixa pra lá. Olha, Nafissatou não é assim feia pra Diallo 😉 mas como camareira ela deve ser uma miss. O fato da entrevista dela ao Good Morning America ter soado tão legítima quanto uísque paraguaio (ninguém aí nos EUA reparou e comentou este fato?) só reforça a desconfiança em um complô — que por sinal já está indo um pouco longe demais, haja vista que sua intenção inicial era apenas derrubar DSK de seu pedestal, o que já foi plenamente atingido.

        F.

      • João Canali disse:

        Mas mesmo um suposto velho leão (que é realmente o rei da selva se pensarmos nos tempos de duração de seu apetite sexual) como DSK possui suas limitações em função de suas “irresponsabilidades”. Digamos que seja complicado, inapropriado, arriscado e/ou constrangedor para o chefe do FMI bater um papo com a galera da portaria do Softel e pedir um “catálogo” ou mesmo entrar no computador da portaria a disposição dos hospedes e facilmente descobrir um site de scort girls em NY… Acho que foi mais aquela coisa da bola dando sopa na marca do pênalti… A concepção do colonizador escravocrata é perfeita… Por outro lado, eu acho que a figura da Mrs. Diallo é adequadíssima para o personagem, sem mais nem menos, um casting perfeito… “Vai lá e faz assim e assado…”

        Ao me perguntares se ninguém aqui andou comentando a flagrante debilidade interpretativa de Mrs. Diallo, você me obriga a lembrar-lhe o atual engessamento da crítica jornalística nos EUA, na grande mídia claro, essa é que forma a opinião, pelo menos ainda… Na verdade, seria arriscado afirmar que ninguém estranhou a coisa em alguma mídia, mas tem muita coisa envolvida… medo de ser processado pelo tal advogado que já enfrentou até a promotoria de NY e que obviamente tem as costas quentes (dispensável sugerir de onde viria essa quentura)… por que uma crítica qualquer descambaria fácil para o colo dos politicamente corretos inconformados até agora com a perda de um mais exemplo de poderosos contra os coitadinhos do mundo… o fato dela ser negra já gera automaticamente um escudo protetor onde todas as possíveis faltas entram no ralo comum da impagável divida racista… O que eu estranho em todo esse episódio foi a atuação da imprensa francesa… Caramba, nem uma grande reportagem com detalhes fruto de um investigação independente… Correspondentes interneteiros comentam que a imprensa européia é mais “chapa branca” que a americana, que existe um erro de expectativa de nós que viemos do sul do Novo Mundo, acostumados com os ares marinhos e seus detratores.

        Eu não acho que essa operação rescaldo esteja se alongando não… A idéia é nitidamente de fazer todos acreditarem que a coisa não passou de um golpe da camareira querendo grana em conluio com um namorado criminoso e um advogado “blackmail” querendo fama e sua parte nos acordos e entrevistas (algo muito comum nos EUA)… A questão diplomática é delicada nesse caso… Não se sabe exatamente o que o DSK vai falar quando estiver na segurança do território francês… ou em algum livro que escreverá antes das próximas eleições francesas, depois dessa que ora se inicia e… ficou de fora… É necessário deixar a opinião sobre o caso ficar bem fixa, a, aparentemente, desastrada entrevista faz parte desse cenário, se encaixa perfeitamente. “Elá tá péssima não convence… Ótimo, deixa passar é isso mesmo que queremos…”

      • João Canali disse:

        Agora sabemos porque Mrs. Diallo se tornou a isca perfeita para fisgar DSK… Não era apenas por falar o francês… Naturalmente já conheciam sua queda por afro-femeas…

        http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/08/01/ex-amante-de-strauss-kahn-diz-que-foi-perseguida-por-advogado-de-camareira-925030114.asp

  2. fbarbuto disse:

    Canali,

    Esse DSK seguiu à risca aquele mandamento racista brasileiro, “Negra pra transar, branca pra casar”. Eita colonizador…

    Uma coisa é certa: preciso descobrir a dieta desse cara… 😉

    F.

Deixar mensagem para João Canali Cancelar resposta